Ota na mira das centrais fotovoltaicas

Ota na mira das centrais fotovoltaicas

O ano 2021 pode vir a ser muito rico no que respeita à instalação de centrais fotovoltaicas. A Ota, no concelho de Alenquer, é um dos locais que está no mapa das futuras
instalações. Com que benefícios? Que perigos e ameaças estão em causa? Fomos ouvir o professor e biólogo José Carlos Morais sobre esta matéria.

O relatório da proposta de Orçamento do Estado prevê que este ano seja lançado um concurso público para a adjudicação de 10 MW de solar fotovoltaico em regime de autoconsumo, ou comunidade de energia, para edifícios da Administração Pública Central.

O mesmo documento aponta para a entrada em funcionamento de mais de 700MW de nova capacidade de energia solar fotovoltaica, fruto de licenças atribuídas desde 2016, com o objetivo de atingir um total de 1,5 GW [1500 MW] de energia solar fotovoltaica em funcionamento no Sistema Elétrico Nacional (SEN) até final de 2021.

As novas instalações fotovoltaicas irão consolidar a energia solar como uma das principais fontes de produção de eletricidade em Portugal, embora ainda longe da capacidade instalada em centrais hidroelétricas e em parques eólicos.

Ota como “capital” da energia fotovoltaica?

Alenquer está na rota das centrais fotovoltaicas, uma vez que está a prevista a instalação de centrais para a zona do antigo aeroporto da Ota. O objetivo passa pela obtenção de energia elétrica limpa em termos de emissões de CO2 para a atmosfera com vantagens que serão mais globais do que locais.

Poderá a Ota vir a ser uma “capital” da energia fotovoltaica? O professor e biólogo José Carlos Morais acredita que não: “Vão existir muitas capitais de energia solar no país, logo ninguém vai reconhecer Alenquer por isso. Como não a reconhecem como capital do vinho (há dezenas no país) ou não reconheceram quando as centrais térmicas do Carregado eram vitais para a produção elétrica nacional.

De igual modo, não haverá propriamente uma compensação económica por isso, atribuída ao poder local, que seja diferente daquelas que já existem pela central do Carregado ou pelas eólicas do concelho. Para a população local, se olharmos apenas de um ponto de vista egoísta de uma “afetação individual” (a famosa frase “em que é que isso me afeta?”), o impacto negativo para quem mora nos arredores é praticamente nulo”.

Em relação aos receios da população sobre os perigos de ter uma central fotovoltaica “à porta de casa”, este tipo de construção só causa algum transtorno na fase de construção, quando há mais movimento nas estradas. Não há poluição, ruído ou transportes a circularem depois de implementadas as centrais fotovoltaicas que, por outro lado, também não são grandes fontes de emprego local.

Conclui-se, portanto, que a qualidade de vida no concelho não será muito influenciada. Mas já no que concerne aos impactos ambientais, não será tanto assim, conforme nos explica o professor: “Os impactos negativos surgem em termos de afetação de solos, de sistemas ecológicos e de biodiversidade. Os solos agrícolas de primeira qualidade existentes na zona do Paul de Ota, com grande disponibilidade de água, deveriam estar reservados para a produção alimentar. Foi por isso que a zona foi drenada pelos monges de cister. Instalar fotovoltaicas em locais onde, nas fotos de satélite, se veem pivots de rega e arrozais é abdicar da capacidade produtiva nacional.
Solos daqueles não abundam. Essa zona tem uma altitude de 1 metro acima do nível do mar, inundação frequente, é cabeceira de recarga do aquífero Tejo-Sado e um corredor ecológico (Tejo Montejunto) classificado no Plano Regional de Ordenamento do Território. Os terrenos marginais eram sobreirais e montados, que na zona mais junto ao Camarnal foram substituídos por eucaliptais e alvo de exploração de areia”.

Existem quatro lotes de grandes centrais fotovoltaicas confinantes, que ocupam em conjunto uma área vasta entre a estrada que liga Cheganças-Camarnal-Bemposta-Quinta do Carneiro e a A1, o que implicaria que o impacte ambiental fosse analisado em conjunto.

Câmara confirma existência de vários projetos

Em declarações ao jornal Nova Verdade, Pedro Folgado, presidente da Câmara Municipal de Alenquer, explica que o município selecionou “vários projetos de fotovoltaicas no concelho, mas só temos um aprovado; todos os outros estão em estudo de impacto ambiental. Temos de ouvir o Ambiente, o Ordenamento do Território e a Comissão da Defesa da Floresta. Em termos ambientais acredito que não vai haver impacto, mas teremos outras conclusões sobre esse assunto. Se o parecer for negativo, este projeto está fora de questão; não é aprovado se estiver em causa o ambiente”, esclarece o autarca, que acrescenta ainda que esta questão vai ter também pareceres da APA e da CCDR.


Estes quatro locais terão sido escolhidos porque, à semelhança do que acontece com as localizações em Azambuja, eram terrenos que tinham sido adquiridos por especuladores aquando da possibilidade de instalação do novo aeroporto de Lisboa em Ota. Todavia, e na opinião do biólogo José Carlos Morais, estes locais não serão os que melhor servem a instalação em termos de eficiência e produtividade fotovoltaica: “É que pauis da bacia do Tejo são habituais bancos de nevoeiro. Parece que a disponibilidade da oferta de solos dos especuladores e a proximidade da Central Térmica do Carregado foram determinantes”.

Os estudos preliminares de impacto ambiental realizados em 1999 identificaram várias espécies de flora protegidas por diretivas europeias e que são características daquele tipo de habitats de substrato arenoso. Leuzea longifolia e Armeria pinifolia são duas delas, mas também existem muitas espécies de orquídeas na zona, enquanto lagoas e pauis existentes na zona (Alvarinho e Ota) são abrigo habitual para aves e anfíbios. “Estes pauis e uma pequena área de montado existente a sul da pista da base ficarão completamente rodeados de painéis solares, o que poderá afetar a sua função de corredor ecológico. Ainda por cima as linhas de ligação à Central Térmica do Carregado seguem esse corredor dos rios Alenquer/Ota”, conclui o professor.


A confirmar-se, será um ano recorde na instalação de centrais solares no país, que hoje conta com cerca de 950 MW de capacidade solar em operação. Pedro Folgado, presidente da Câmara Municipal de Alenquer, acredita que ainda em 2021 vão haver decisões sobre o avançou, ou não, dos projetos. Os que forem para avançar serão executados pouco tempo depois.

Posts Carousel

Latest Posts

Top Authors

Most Commented

Featured Videos