A Câmara Municipal manifestou total confiança na operação de transporte e no trabalho diário ali feito. Já o presidente da freguesia de Ota está preocupado e tem reservas quanto a todo o processo.
Por: Daniela Azevedo e João Honrado
Fotos: Força Aérea Portuguesa
O Centro de Formação Militar e Técnica da Força Aérea Portuguesa (CFMTFA), na freguesia de Ota, Alenquer, recebeu a 20 de abril 169 refugiados e requerentes de asilo que ocupavam um hostel na Rua Morais Soares, em Lisboa.
A operação de transporte de Lisboa para a Base Aérea envolveu bombeiros, militares, Cruz Vermelha, GNR e INEM.
Dos 169 indivíduos, 136 testaram positivo ao novo coronavírus (SARS-CoV-2), 26 testaram negativo e sete dos resultados foram inconclusivos.
Estas pessoas permanecerão em quarentena, durante duas semanas, nas instalações da Base Aérea da Ota, concelho de Alenquer.
“Não há nenhum civil ou militar em contacto com essas pessoas, nem quem lhes faz a comida. As pessoas que ali estão confinadas estão isoladas de todas as outras que ali trabalham”, tranquiliza o presidente da Câmara Municipal de Alenquer, Pedro Folgado, ao jornal Nova Verdade. A Câmara Municipal manifestou total confiança na operação, assegurada por elementos da Polícia da Força Aérea, reforçado por elementos da Polícia do Exército e da Marinha.
Rodolfo Batista, comandante da Proteção Civil Municipal, disse desde o início não haver razão para alarme, porque todo o processo está a ser acompanhado por profissionais, mas Diogo Carvalho, presidente da Junta de Freguesia de Ota, mostrou-se muito preocupado com a situação e já ouviu “revolta por parte das pessoas da freguesia”. “Nunca pensei nesta situação e não tenho 100% de certezas que isto venha a funcionar”, disse ao jornal Nova Verdade.
“A decisão de transferir estes cidadãos estrangeiros foi comunicada ao município pela Secretaria de Estado para a Integração e as Migrações, tendo sido informado o município de que foram acauteladas todas as medidas de segurança previstas para estes casos”, informou a autarquia.
O município esclareceu que, por se encontrar “numa zona isolada e densamente arborizada”, o Centro de Formação Militar e Técnica da Força Aérea Portuguesa “possui todas as condições para receber doentes com covid-19”. Além disso, permite “manter estas pessoas isoladas, sem que isso obrigue à paragem da sua atividade, e garantir a segurança quer dos elementos civis, quer de todos os militares que ali trabalham”.
O presidente da freguesia de Ota discorda: “Muitas pessoas trabalham lá, circulam lá perto, muitas não foram trabalhar por serem de grupos de risco. Ninguém nos pode garantir que os casos em Alenquer não vão aumentar devido a esta situação. Se querem garantias, fechem a unidade! Ninguém sai, ninguém entra! Ainda há muito para descobrir sobre a doença; não sabemos tudo e acho que isto ainda nos vai trazer problemas. Será que quem vai tratar destes indivíduos não pode ficar contaminado?”.
A Base Aérea dispunha de 500 camas preparadas para acolher pessoas com a covid-19.
“Nós não temos poder sobre as forças armadas, no entanto, confiámos que tínhamos ali um equipamento de retaguarda. Entretanto fomos informados que poderia receber infetados não só de Alenquer, mas de outros locais. Esta situação agora ultrapassa-nos. Não podemos dizer se concordamos ou discordamos”, enquadrou o presidente da Câmara Municipal de Alenquer, Pedro Folgado.
A Câmara de Alenquer criou, entretanto, dois espaços de acolhimento de doentes covid-19, com 100 camas, alternativos à Base Área da Ota, depois de esta ter sido acionada pelo Governo para acolher os migrantes. O Pavilhão Municipal de Alenquer tem disponíveis 65 camas e estão 35 no pavilhão da Sociedade Filarmónica de Abrigada.
A visita do Chefe do Estado-Maior da Força Aérea
Dias depois da mudança dos refugiados para a Ota, realizou-se uma visita às instalações da Base de uma comitiva multidisciplinar, militar e civil, na qual estavam incluídos o ministro da Defesa, João Cravinho, o Chefe do Estado-Maior da Força Aérea, General Joaquim Borrego, a secretária de Estado para a Integração e das Migrações, Cláudia Pereira, bem como o presidente da Câmara Municipal de Alenquer, Pedro Folgado, entre outros.
Esta visita teve como objetivo a realização de um briefing relativo à receção e ao acomodamento destas 169 pessoas na Base Militar. Foram também discutidos todos os procedimentos adotados e a adotar enquanto durar a permanência da quarentena na Base.
O ministro da Defesa e o Chefe do Estado-Maior da Força Aérea reafirmaram estar “totalmente garantida a segurança de todos os envolvidos nesta operação”.
Como está o estado emergência?
O Presidente da República anunciou a 28 de abril que o estado de emergência vai terminar à meia-noite do dia 2 de maio e que Portugal vai entrar numa fase de abertura por pequenos passos.
“O estado de emergência cessará a sua vigência após esta segunda renovação no dia 2 à meia-noite. Espera-se não ser necessário no futuro recorrer novamente ao estado de emergência. Se for necessário, isso será ponderado”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa.
Segundo o chefe de Estado, que falava aos jornalistas no Infarmed, em Lisboa, Portugal vai entrar agora numa “terceira fase” do combate à propagação da covid-19, que “continua a ser de controlo da situação”, mas com “uma retoma ou uma abertura – qualquer dos termos se pode aplicar – por pequenos passos”.
“E as duas coisas são inseparáveis: a retoma por pequenos passos e, por outro lado, a preocupação de controlo permanente da situação. Aqui a ideia já não é a de fechamento, já não é a de utilização de um instrumento drástico e radical, é a de utilização de outros instrumentos”, acrescentou.
O Presidente da República advertiu, contudo, que “não se pode encarar a terceira fase como a normalidade e a estabilização dentro do possível” e que “os portugueses têm de ter a noção de que a contenção continua a ser importante, o controlo da situação continua a ser importante”. Marcelo Rebelo de Sousa considerou que o fundamental nesta “nova fase” é conseguir “esta conjugação, este equilíbrio entre retoma por pequenos passos e controlo permanente da situação”.
Notícia originalmente publicada na edição 1056 do jornal Nova Verdade