AMU tem sede em Abrigada e espalha ajuda pelo país

AMU tem sede em Abrigada e espalha ajuda pelo país

A Associação AMU tem desenvolvido várias iniciativas de apoio aos mais carenciados, mas nos últimos anos tem apostado na reinvenção do projeto. Com a chegada da pandemia, a associação voltou a demonstrar ter capacidade de se adaptar aos desafios atuais.

Após três meses de paragem, o país volta a dar, agora, os primeiros passos em direção ao desconfinamento. Os pequenos negócios voltam a abrir portas, na esperança de conseguirem recuperar os últimos meses, mas a pandemia já deixou uma marca muito profunda nestas empresas. A crise socioeconómica em que o país mergulhou faz-se sentir na casa de muitos portugueses que perderam o seu único meio de subsistência ou pelo menos grande parte dos rendimentos. Nestas alturas são as associações e as instituições de solidariedade social que dão a mão a quem ficou, de repente, sem nada. Em Alenquer uma das instituições que está a fazer esse trabalho é a Associação AMU – Ações para um Mundo Unido.


Francisco Maia, 34 anos, ocupa o lugar de Presidente da Direção da Associação e tem visto de perto a forma como a crise está a afetar as famílias portuguesas, que procuram cada vez mais ajuda externa: “Verificámos que houve um aumento das necessidades mais emergentes. O que tem acontecido neste ano e o que nos tem, de certa forma, desafiado a alterar um bocadinho o projeto e a tentar melhorá-lo um pouco, é que aumentou muito o número de pedidos para situações limite. Situações em que, por exemplo, a família já não consegue pagar a renda da casa, a conta da luz ou da água”.

A AMU tem desenvolvido desde 1994, data em que a associação se sediou em Abrigada, vários projetos que têm sempre como objetivo final a criação de um “mundo mais unido”, através da promoção de projetos que promovem o diálogo e a inclusão. Nos últimos anos, o foco da instituição tem estado no projeto RAISE, que procura auxiliar pessoas em situação de desemprego de longa duração a regressar ao mercado de trabalho.

O projeto está dividido em diferentes vertentes: “Tem uma parte, que é a ferramenta mais individual, que envolve coisas como, por exemplo, ajudar a preparar um currículo, preparar uma entrevista, ajudar a organizar as próprias qualidades da pessoa. Fazemos também o acompanhamento psicológico, para ajudar a pessoa no seu desenvolvimento pessoal; Depois temos uma outra parte, a que chamamos Bootcamp, onde durante um certo número de fins-de-semana, as pessoas podem desenvolver ideias de negócios que tenham. Por exemplo, alguma atividade que tenham sonhado fazer ou que tenham capacidade de desenvolver e que lhes permita criar o seu próprio posto de trabalho; existe também uma outra componente onde procuramos trazer momentos formativos, sejam eles do ponto de vista mais conceitual, em que se pensa em conteúdos de entrada no mercado de trabalho, ou então do ponto de vista do desenvolvimento pessoal, como é o caso da formação sobre teatro, que nos permite ter um contacto maior connosco próprios e com a forma como interagimos com os outros em contexto de trabalho”.


Na primeira edição deste projeto participaram cerca de 50 pessoas, das quais 21 conseguiram regressar ao mercado de trabalho. Neste momento o projeto já ajudou mais de 200 pessoas, sendo que em média 50 por cento dos participantes conseguem arranjar emprego ou então criar o seu próprio posto de trabalho. Francisco Maia relembra a história de uma família, que tinha uma atividade de limpeza de matos e através da ajuda da AMU, a empresa ganhou uma nova vida e tornou-se no principal meio de subsistência da família.

“Só o facto de existirem exemplos de pessoas que conseguiram tornar uma habilidade que tinham numa atividade produtiva, surpreendeu-me imenso porque sei da dificuldade que é em qualquer circunstância fazê-lo, mas quando estamos a falar de pessoas que têm de lidar com um conjunto de problemáticas, como a dificuldade em acreditar em si próprio, não saber que passos dar, que contactos estabelecer, etc., é ainda mais impressionante”, confessa o presidente da AMU.


Com a chegada da pandemia, também a AMU foi obrigada a adaptar-se aos novos tempos, o que resultou na criação de novos projetos. “Neste momento, estamos também a trabalhar com a PAR – a Plataforma de Apoio a Refugiados – porque identificamos na zona de Alenquer um conjunto de famílias de imigrantes e refugiados que têm também uma série de problemáticas próprias. Temos vindo, por isso, a adaptar o projeto Raise também para esses casos específicos e esperamos no futuro poder dar uma melhor resposta a estas famílias”, explica Francisco Maia. A par com esta iniciativa, em 2021 a associação contratou uma série de costureiras para fazer máscaras para entregar às pessoas do Centro Infantil Pequena Chama, em Angola, e às respetivas famílias. Em poucos meses já foram confeccionadas mais de 2200 máscaras faciais, mas o objetivo é chegar às 10 mil.

Plataforma 42: Dar, partilhar, receber

A Associação AMU vive, em grande parte, da generosidade das pessoas e empresas. Quer seja através do trabalho dos voluntários que doam o seu tempo para fazer o projeto crescer, quer através das outras pessoas que, mesmo sem ter uma ligação à instituição, ajudam com donativos. Exemplo disso é a Plataforma 42, que nasceu com o intuito de juntar quem tem mais necessidade àqueles que têm algo para dar. “Muitos dos nossos voluntários aperceberam-se que andavam sempre no carro com sacos de roupa e outras coisas, que as pessoas tinham em casa e davam para depois serem distribuídas pelas pessoas que identificávamos como tendo mais necessidade”, explica Francisco Maia. Esta constatação levou à criação de um bazar comunitário sediado em São João da Madeira, no norte do país.


Alguns dos bens angariados pela AMU

Mas a AMU quis chegar a mais gente, de todo o país, e, por isso, foi criado este projeto online. “A plataforma 42 aparece como um meio mais simples de em qualquer zona do país podermos preencher um pequeno formulário e dizer ‘eu tenho aqui algo que posso pôr à disposição’, ou então ‘tenho aqui uma necessidade, de, por exemplo, um computador, algo que com a pandemia foi muito solicitado, e então a AMU serve aqui de facilitador deste processo.” A plataforma online já possibilitou a distribuição de móveis, berços, cadeiras de rodas ou até mesmo andarilhos a pessoas que de outra forma não poderiam adquirir estes bens.


“A AMU é um espaço onde procuramos que toda a gente, independentemente de onde moram, de onde vêm, das suas convicções, sinta que é um espaço onde pode trabalhar para um bem comum, trabalhar para este mundo unido e é essa quase visão utópica que torna a AMU diferente, porque se o mundo unido é uma coisa utópica as ações não o são e, portanto, se queremos chegar lá tem de ser com estas ações pequenas e, pouco a pouco, acreditando que é possível melhorar”, afirma Francisco Maia que se tem dedicado a este projeto há quase uma década.

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